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As imagens e os fatos que contaram a história do emblemático Mundial feminino na França

Por Marina Galeano

1. Marta pela igualdade de gênero
Logo após abrir o placar contra a Austrália, ainda na fase de grupos da Copa, Marta comemorou o gol com um gesto inusitado – apontou o dedo para a chuteira. Não, não era para exibir a marca de um patrocinador. Até porque, a rainha do futebol recusou propostas de fornecedores de material esportivo devido à discrepância entre os valores oferecidos a ela e a outros atletas que estão no mesmo patamar. O gesto da camisa 10, na verdade, indicava o símbolo da campanha “Go Equal”, que prega a igualdade de gênero no esporte. Em suas redes sociais, o movimento lançou a questão: “Bola igual. Campo igual. Regras iguais. Se as mulheres jogam futebol da mesma forma que os homens, por que elas não recebem o devido reconhecimento? O devido apoio? A devida remuneração?”.

Seis vezes eleita a melhor jogadora do mundo, Marta assumiu um protagonismo importante na luta feminina por melhores condições no futebol durante o torneio. Depois da partida diante das australianas, quando alcançou o recorde de gols de Miroslav Klose (16) em Copas e se tornou a primeira atleta da história a balançar as redes em cinco edições da competição, a brasileira declarou “Isso é uma igualdade de todas nós, de todas as mulheres. Eu não gosto de falar, só gosto de mostrar”, e apontou novamente para o símbolo de sua chuteira preta.

2. A craque é um “protesto ambulante”
A capitã da seleção dos Estados Unidos se define como um “protesto ambulante”. Com cinco gols marcados até a semifinal da Copa, Megan Rapinoe utiliza sua visibilidade para se posicionar a favor da igualdade de gênero, da causa LGBT e para criticar Donald Trump – a quem classifica como sexista, misógino, mesquinho e racista. Em 2016, a atacante foi uma das líderes da ação movida contra a confederação americana de futebol (USSoccer) em função das disparidades de condições de trabalho e remuneração entre as seleções masculina e feminina. Enquanto as americanas são tetracampeãs olímpicas e agora também mundiais, o melhor resultado dos homens nas últimas 18 edições da Copa limitou-se a um modesto oitavo lugar, em 2002.

Ao longo de todo o Mundial da França, Rapinoe adotou o silêncio durante a execução do hino nacional e se recusa a levar a mão ao peito. “Como uma americana gay, sei o que significa olhar para essa bandeira e não tê-la como símbolo de proteção à sua liberdade”, explicou a atleta. Em entrevista recente, ela também afirmou que não irá à “merda da Casa Branca” caso os EUA seja campeão.

3. O comovente gol de honra da Tailândia
Na estreia da Copa, uma derrota por 13 a 0 diante dos Estados Unidos. Logo depois, um duelo difícil contra a Suécia. O placar estava 4 a 0 para as europeias quando o improvável aconteceu. Já nos acréscimos, Kanjana Sung-Ngoen marcou o primeiro e único gol da Tailândia no Mundial da França e provocou comoção na equipe. No gramado, as atletas da Ásia comemoravam como se tivessem vencido o jogo. A reação mais emocionada, porém, veio do banco de reservas. Nualphan Lamsam, diretora da seleção tailandesa, foi às lágrimas ao abraçar a técnica Nuengrutai Srathongvian. A imagem viralizou na internet e correu o mundo.

Socialite e executiva, Lamsam ajuda a financiar o futebol feminino no país. Ao final da partida, que terminou em 5 a 1 a favor das suecas, ela posou para foto ao lado das jogadoras com um largo sorriso no rosto e a mão direita erguida. “Vencer ou perder não é tão importante quanto manter o espírito e ter a garra necessária a continuar batalhando”, escreveu a dirigente no Instagram.

4. Futebol feminino conquista o público
Estádios lotados, recordes de audiência pelo mundo. A Copa-2019 aproximou o público do futebol feminino como nunca. Antes mesmo de a bola rolar nos gramados franceses, a venda de ingressos já estourava. Os bilhetes para os jogos da semifinal e para a grande decisão se esgotaram em apenas 48 horas. A abertura da competição, entre a anfitriã e a Coreia do Sul, reuniu 45.261 torcedores no Parc des Princes. Na última terça-feira, 53.512 pessoas estiveram presentes no Stade de Lyon para acompanhar a semi Inglaterra x Estados Unidos. A partida foi o programa de TV mais visto em todo o Reino Unido este ano: 11,7 milhões de espectadores. A disputa pela outra vaga na final, entre Suécia e Holanda, levou 48.452 torcedores às arquibancadas.

O Mundial da França também teve a maior audiência da história do torneio. Somadas as transmissões da Globo, Band e Sportv, 35.245 milhões de pessoas assistiram à eliminação do Brasil pelas donas da casa nas oitavas. O recorde, até então, pertencia aos EUA. Em 2015, o país registrou 25,6 milhões de espectadores ligados à decisão, quando as americanas venceram o Japão e conquistaram o tricampeonato.

5. Um beijo na Copa
A vitória por 1 a 0 da Suécia sobre o Canadá, nas oitavas de final da Copa, também vai ficar lembrada por uma demonstração pública de amor. Ao término da partida, a defensora sueca Magdalena Eriksson foi até a arquibancada à procura de Pernille Harder, sua companheira de vida e adversária nos gramados. Harder joga na seleção da Dinamarca – que não conseguiu vaga no Mundial justamente por ficar atrás da Suécia nas Eliminatórias -, mas deixou a rivalidade de lado e vestiu a camisa amarela e azul para torcer por sua mulher. A recompensa veio em um beijo apaixonado que correu o mundo pelas redes sociais.

Assim como a dupla europeia, muitas jogadoras de futebol não hesitaram em revelar sua orientação sexual ao longo da competição. Uma importante contribuição à causa LGBT e ao debate sobre tolerância e respeito à diversidade.

6. Elas no comando
Minoria no começo da Copa, as treinadoras dominaram a grande decisão. Pela segunda vez na história, a final do Mundial feminino terá duas mulheres no comando das equipes: Jill Ellis do lado dos Estados Unidos, e Sarina Wiegman do lado da Holanda. Entre as 24 seleções que iniciaram no torneio, apenas nove eram dirigidas por mulheres. Nas quartas, elas se tornaram maioria – cinco técnicas e três técnicos. A “conta” voltou a ficar equilibrada nas semis, mas os EUA derrotaram a Inglaterra do comandante Phil Neville e a Holanda levou a melhor sobre a Suécia de Peter Gerhardsson. “Acho muito bom que duas mulheres treinem os finalistas, provando que podem ocupar postos de comando, que podem ter coragem para ousar, tomar decisões difíceis. É muito bom ver mais mulheres envolvidas em posições de poder”, disse Wiegman em entrevista coletiva. Em 2003, quando Alemanha e Suécia se enfrentaram na final, as equipes eram treinadas por Tina Theune e Marika Domanski-Lyfors, respectivamente.

7. A maior artilheira da história das Copas
O pênalti convertido diante das italianas, no último jogo da fase de grupos do Mundial da França, foi o 17º gol de Marta em edições da Copa e a transformou na maior artilheira da história do torneio –  entre homens e mulheres. A marca pertencia ao alemão Miroslav Klose, que balançou as redes 16 vezes na competição. “Esse recorde representa bastante. Pois não é só a jogadora Marta, mas as mulheres. Num esporte que ainda é masculino para muitos, temos uma mulher como a maior artilheira das Copas. É para todas elas”, disse a atacante, que recebeu os cumprimentos de diversos clubes, atletas, treinadores e federações mundo afora. A Fifa, porém, afirmou não ser possível considerar a brasileira como a maior goleadora de todos os tempos porque, para a entidade, o mundial feminino e o masculino são competições distintas.

8. A despedida de uma lenda
Depois de jogar sete Copas do Mundo  – um recorde entre homens e mulheres -, Formiga se despediu do torneio na derrota para a França, nas oitavas de final. Aos 41 anos, a baiana Miraildes Maciel Mota se tornou um dos maiores símbolos do futebol feminino, com números surpreendentes na carreira. São quase 25 anos de serviços prestados à seleção brasileira, duas medalhas de prata olímpicas, mais de 160 partidas com a camisa verde e amarela (ultrapassando o ex-lateral Cafu, que tem 149) e outras tantas marcas dignas de uma lenda dos gramados. Contratada pelo Paris Saint-Germain até 2020, Formiga ainda planeja disputar a Olimpíada de Tóquio no ano que vem. Será a sétima vez que ela participa dos Jogos. Pelo visto, vem novas façanhas por aí.

9. O Brasil abraça a seleção feminina
Foi apenas na oitava edição da Copa do Mundo de Futebol Feminino que os brasileiros conseguiram acompanhar todos os jogos da seleção pela TV aberta, na Globo e na Band. Sportv e Bandsports também exibiram diversas partidas do torneio nos canais fechados. Os números de audiência provaram que o público se interessa, sim, pela modalidade: mais de 35 milhões de espectadores ligados no confronto Brasil x França nas oitavas de final, um recorde histórico no torneio. Nas redes sociais, a quantidade de seguidores das atletas da seleção subiu exponencialmente, e o carinho da torcida pode ser sentido de perto. Dezenas de pessoas (a maioria mulheres) compareceram ao aeroporto de Guarulhos na madrugada do dia 25 de junho para receber as jogadoras com muita festa no desembarque. Em meio ao aglomerado de fãs, lia-se cartazes do tipo “Obrigado, guerreiras” e “A luta continua”.

 

10. Hegemonia absoluta

Quem será capaz de desbancar a supremacia dos Estados Unidos no futebol feminino? Depois de vencerem a Holanda na grande decisão, as americanas –que nunca ficaram fora de uma semifinal nas oito edições da Copa– se tornaram tetracampeãs mundiais. Os títulos de 1991, 1999, 2015 e 2019 (ou seja, metade dos disputados até hoje) se somam às quatro medalhas de ouro olímpicas (1996, 2004, 2008, 2012) e colocam o país em um patamar difícil de ser alcançado. Esse desempenho impressionante resulta de um trabalho impecável de anos de investimento e valorização da modalidade; de disciplina e muito treinamento. Um trabalho de excelência que revelou e continua revelando gerações talentosas de atletas do porte de Megan Rapinoe, Alex Morgan, Alyssa Naeher e Carli Lloyd. Aos adversários, um último recado: não, não era arrogância. Era autoconfiança mesmo!

 

 

 

Fonte: Revista Marie Claire