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A Casa Dom Inácio de Loyola recebeu, no início da manhã, apenas um terço dos devotos que costumam participar dos rituais. Justiça ainda não julgou pedido de prisão


Abadiânia (GO) — Ruas esvaziadas, moradores cabisbaixos e fiéis visivelmente abalados. Nesta quinta-feira (13/12), a típica movimentação em torno da Casa Dom Inácio de Loyola deu lugar a uma sensação de tristeza, após o pedido de prisão preventiva do médium João de Deus, acusado de abuso sexual.

O templo recebeu, no início da manhã, apenas um terço dos devotos que costumam participar dos rituais. Na rua do templo, a maior parte das lojas estão fechadas. A organização do centro espírita não permitiu a entrada de cinegrafistas e de fotógrafos. Repórteres não podem passar da entrada do salão principal. João de Deus não participará dos atendimentos nesta quinta-feira.

Moradores e comerciantes ainda tentam entender o que é reservado ao futuro de Abadiânia. Uma comoção começa a se formar contra a possível prisão do médium. Mais que meio de trabalho, o centro espírita significa uma parte da história de vida da maior parcela dos habitantes do município de quase 20 mil pessoas, que fica distante cerca de 120km de Brasília.
Uma moradora de 46 anos, que pediu para não ter o nome divulgado, conta que vive um espécie de luto desde as primeiras denúncias. “Eu cheguei de Minas Gerais aos 6 anos. Desde então, frequento aquele lugar. Não consigo entender, não acredito isso que estão falando do seu João”, diz.
A relação da família com o médium é antiga. A mãe dela recebia o médium em casa ainda na década de 1970. “Ele vinha aqui conversar e tomar café. A gente era criança e corria pra todo lado. A cidade não tinha tantas pousadas como tem agora. Vivíamos no centro, participávamos das festas de aniversário, de dia das crianças. Nunca percebi nada de diferente, ele sempre foi muito respeitoso”, conta.
Para ela, os 258 relatos recolhidos pelo Ministério Público de Goiás não condizem com a verdade. “Seu  João nunca foi de dar muita conversa, mas sempre tratou todos muito bem. É impossível que isso tenha acontecido. Pode ter havido algum romance antigamente com alguma delas, mas não esse tipo história”, conclui.

Pedido de prisão 

Até as 8h20 desta quinta-feira (13/12), o Tribunal de Justiça de Goiás não havia julgado o pedido de prisão protocolado pela força tarefa do MP que investiga o caso. O pedido deve ser analisado pelo juiz Fernando Chacha, que é responsável pela comarca de Abadiânia. O advogado Alberto Toron, responsável pela defesa de João de Deus, disse que não foi notificado oficialmente e que não poderia, então, comentar o caso.

Ao chegar no centro espírita, os médiuns pedem que os devotos façam orações e mandem energia positiva a João de Deus. Segundo a assessoria de imprensa do médium, o religioso está abalado e não está conseguindo dormir devido as acusações.
Os devotos atribuem o conflito ao trabalho da imprensa. “Estão vendo o que vocês estão fazendo? Vocês estão tentando acabar com trabalho de amor, caridade e humildade. Não é justo. Vocês vão pagar por isso”, reclamou uma fiel ao entrar no templo.
Um homem, que também pediu sigilo da identificação, faz um protesto silencioso sentado na entrada do centro espírita. Ele escreveu em uma placa frases em inglês. Ele alega que está mandando boas vibrações a João de Deus.

Movimentação 

Mesmo após os tumultos registrados nessa quarta-feira (12/12), o policiamento do município goiano não foi reforçado. Nas primeiras horas da manhã, nenhuma viatura foi vista perto do local de atendimento espiritual Algumas pousadas estão com as portas abertas, diferente da receptividade notada entre terça e quarta-feira. Hóspedes e gerentes evitam comentar o assunto.
Um casal de Goiânia, distante 90 km de Abadiânia, lia as notícias no celular e acompanhava pela televisão a cobertura do caso. Estavam desconfiados. “Eu acho que não vão aceitar o pedido de prisão dele. Não tem provas”, disse o homem à sua esposa.
Vestidos de branco, eles participam dos trabalhos espirituais agora pela manhã. Contudo, planejo ir embora antes do tempo. Inicialmente, eles ficariam até sexta-feira, mas já farão as malas na noite desta quinta. “Se o João não vai mais atender, não tem sentido ficarmos aqui”, comentou.
Pelo menos dois ônibus desembarcaram turistas nesta manhã. As excursões vieram com turistas de São Paulo e também com estrangeiros. Arredios, eles pediram privacidade. “Nos deixem professar a nossa fé”, reclamou um deles. Alguns, cobriram o rosto.

Prejuízo 

Aos poucos, a repercussão negativa começa a impactar a cidade. Na rua do templo, de 10 pousadas questionadas, sete tiveram cancelamentos de reservas. As outras três não informaram.
Em apenas uma delas, 36 pessoas desistiram da hospedagem. Com preço médio de R$ 120 o pernoite, o prejuízo chega a quase R$ 13 mil, já que os turistas permanecem cerca de três dias na cidade. “Ao longo do tempo fica uma situação insustentável, e a saída é fechar as portas”, advertiu o gerente que pediu para não revelar a identidade.
Saiu no site CORREIO BRASILIENSE