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Um projeto de lei proposto pelo recém-empossado deputado federal Alexandre Padilha (PT) quer tornar obrigatória a permissão da entrada de doulas em qualquer hospital do País — seja ele público ou particular. Algumas cidades brasileiras já aprovaram leis que submetem hospitais e maternidades do SUS ou contratados a aceitarem a presença da doula junto à gestante durante exames pré-natal, parto e pós-parto imediato. É o caso de São Paulo, onde a lei 16.602 vigora desde 2016.

O texto ainda assegura regular o exercício da profissão além de garantir a entrada dessas profissionais em hospitais públicos ou privados, independentemente da equipe médica concordar com a presença da profissional.

“Este projeto ressalta a importância da presença de doulas em maternidades, casas de parto e estabelecimentos hospitalares congêneres, da rede pública e privada de todo o território nacional, tornando obrigatória a sua presença durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, sempre que solicitadas.”

“DOULA TEM UM PAPEL QUE MEU MARIDO NÃO SUPRE”

A consultora de comunicação Naira Feldmann, de 32 anos, pariu Stella há 23 dias e acredita que a presença da doula é essencial, principalmente pelo suporte emocional que a profissional presta à mulher que pode estar fragilizada. “Por mais que eu e meu marido estivéssemos alinhados em relação ao que a gente queria que fosse o parto, como queríamos recebê-la? A doula tem um papel que eu acho que o marido não supre”, refletiu.

Mais de 17 horas depois de sua bolsa ter rompido, Naira ainda não sentia contrações e começou a ficar preocupada, foi quando entrou Kalu, sua doula. “Ela começou a fazer vários procedimentos para incitar as contrações como escalda-pés, floral e um chá com canela, gengibre e menta. Uma hora depois, as contrações começaram”. Ela lembra que chegou ao hospital com quase 10 cm de dilatação.

 “Ela me falava que a mulher já está pronta para isso, que nós temos esse poder. É uma coisa do feminino que o marido não tem para passar”

“Houve momentos em que eu olhava bem nos olhos dela e eu lembro que ela me passava muita tranquilidade. Kalu foi uma fortaleza, ficou comigo o tempo todo”, disse a mãe de primeira viagem.

Kalu Gonçalves é doula e coordenadora de um grupo de doulas voluntárias do Hospital da Luz, em São Paulo. Segundo ela, essa figura voltou a ser vista no Brasil na década de 80, justamente para reduzir os níveis de violência obstétrica como episiotomia — corte na região localizada entre a vagina e o ânus, na hora do nascimento do bebê – ou a manobra de kristeller – quando o profissional empurra a barriga da mãe com o braço.

“A doula é um agente de fortalecimento do protagonismo dessa mulher”, disse Kalu. “Há evidências que mostram que a presença e atuação das doulas reduz o tempo de trabalho de parto, reduz o índice de uso de fórceps e de necessidade de analgesia e aumenta a satisfação da mulher. ”

CUIDAR DA MULHER

Para Mariana Noronha, que também é doula, a responsabilidade é fazer a mulher experienciar um parto saudável e feliz. “A doula é a única profissional no âmbito do parto, que está ali para cuidar do bem-estar daquela mulher. O médico, a obstetriz estão ali para garantir que a mãe e a criança saiam dali vivos e saudáveis. A doula está ali para que a mulher saia feliz”, resumiu. “Ela cuida desde do bem-estar físico até o emocional [da mulher], amparando, dialogando sobre os medos, as dúvidas? Dialogando com o companheiro porque muitas vezes é difícil se comunicar nessa hora. Chamando esse pai e sinalizando de que forma ele participar de uma forma mais efetiva, mais carinhosa”, detalhou Mariana.

MAS POR QUE PROIBIR ESSA PROFISSIONAL?

Pode parecer estranho que alguém ou algum lugar queira barrar a entrada das doulas. Isso pode ser dar, porque, de uma maneira geral, elas procuram aliviar as dores das parturientes sem medicamentos — o que leva mais tempo. Essas profissionais não podem realizar nenhum procedimento médico ou clínico como aferir pressão, avaliação da progressão do trabalho de parto, monitoração de batimentos cardíacos fetais ou administração de medicamentos.

Mais que isso, elas evitam ao máximo a anestesia porque muitas vezes, leva a outras intervenções que acabam resultando em uma cesárea — que é o que se quer evitar. “Pode causar, por exemplo, queda dos batimentos [cardíacos] do bebê. Isso já é considerado sofrimento fetal e leva a uma cesárea”, exemplificou a doula Mariana Noronha. Ela conta que é responsável por confortar fisicamente a gestante e, para isso, se vale de terapias, posições corporais e exercícios específicos durante o trabalho de parto.

Para Padilha, um dos motivos de as doulas não serem queridas dentro das maternidades é a “indústria da cesárea”. “Estamos com uma taxa de 30% de cesáreas na rede pública e 90% na privada e muitas delas não seriam necessárias”, disse o deputado que também é médico, formado pela Unicamp. “Eu não sou contra a cesárea, se ela for bem indicada.”

Arquivo Pessoal

O deputado Alexandre Padilha propõe que os hospitais aceitem doulasImagem: Arquivo Pessoal

Padilha lembrou que em seu projeto está claro que a presença da doula não se confunde com a do acompanhante escolhido pela parturiente. O texto fala que “na hipótese de o espaço físico do centro obstétrico não comportar a permanência de ambos, será viabilizada presença do acompanhante ou da doula, conforme indicado pela parturiente.” Mariana, no entanto, acredita que isso pode ser um dificultador. “Sempre que eles não querem que a gente entre, alegam que não tem espaço físico. Mesmo que a sala seja grande, o médico pode alegar que ele precisa de todo aquele espaço e aí fica por isso mesmo.”

 

FONTE: UNIVERSA