(11) 3726-4220 – das 9h às 18h

Peça ajuda

Doe agora

Como participar

Depois de post sobre a “ligadura de trompas” viralizar nas redes, médica explica prós, contras e o processo para realizar o procedimento

Por Giulia Costa

Na última semana, o post de uma mulher de 26 anos deixou muita gente chocada na internet. O motivo? Ela fez uma laqueadura , método de esterilização comumente chamado de “ligadura de trompas”, sem nunca ter engravidado. Curiosamente, a chuva de comentários não era de condenação por uma mulher decidir não ter filhos numa sociedade em que isso é visto como obrigação. Na verdade, muitas nem sabiam que era possível fazer a cirurgia sem ter filhos.

O post que gerou repercussão foi feito por Karoline Alves, que trabalha na área de administração e deu entrada no processo para a laqueadura dias antes de completar 26 anos. Sabendo que muitos médicos se recusam a aplicar o método numa mulher jovem e sem filhos, Karoline fez questão de levar impressa a lei que respalda o seu direito.

De acordo com a Lei 9.263/96 , que trata do planejamento familiar, mulheres maiores de 25 anos ou com pelo menos dois filhos vivos podem realizar a laqueadura. Porém, essa informação é desconhecida por muitas mulheres, inclusive por Karoline, que nunca quis ter filhos, mas achava que era necessário ter no mínimo dois para ter direito à cirurgia.

— Eu não sabia dessa lei até o início desse ano. Por isso, quando consegui a cirurgia a primeira coisa que fiz foi compartilhar com outras mulheres. Se eu consegui há mais chances delas conseguirem também. Quando a gente tem mais informação, fica mais fácil ir atrás dos nossos direitos — conta ela.

Hoje, com pouco mais de uma semana após a cirurgia, Karoline conta que sentiu apenas cólicas nos primeiros dias, mas já voltou à sua rotina. Ela não sentiu resistência dos profissionais em respeitar sua decisão, mas tem consciência de que na maioria dos casos não é assim. As mulheres ainda encontram muita dificuldade para fazer uma laqueadura, seja na rede pública ou particular de saúde .

— Acho que eles não deveriam mentir [sobre a lei] e facilitar pelo menos a entrada no processo. Mas o acompanhamento psicológico realmente é importante para evitar o arrependimento.

A ginecologista e obstetra Beatrice Nuto Nóbrega, explica que a grande resistência por parte dos médicos é porque se trata de um método com muita dificuldade de reversão.

— A laqueadura é um método contraceptivo e de planejamento familiar eficaz, mas é considerado definitivo. A reversão é possível de ser feita, mas tem chances de sucesso muito pequenas. De qualquer forma, a mulher tem esse direito e a lei resguarda isso — diz Beatrice.

A médica explica que a cirurgia é simples, rápida e com poucos riscos. É feita por videolaparoscopia,  uma técnica cirúrgica minimamente invasiva realizada por auxílio de uma endocâmera no abdômen. Em muitos casos a mulher volta pra casa no mesmo dia. Segundo Beatrice, o procedimento não traz muitas repercussões significativas na qualidade de vida da mulher.

— O efeito positivo é que ela pode ficar livre de anticoncepcionais. De negativo é a pouca chance de reversão, e num percentual muito pequeno de mulheres, pode gerar uma alteração no ciclo menstrual, mas é muito incomum.

A ginecologista e obstetra faz um alerta para a possibilidade de arrependimento. Para mulheres que, depois da laqueadura, decidem engravidar, a melhor opção é a fertilização in vitro, método pouco acessível no país.

— Por esse motivo, não acho que a laqueadura deve ser a primeira opção de escolha. Mesmo que a mulher esteja consciente de que não quer ter filhos, essa opnião pode vir a mudar. Existem atualmente métodos de contracepção de longa duração e com poucos efeitos colaterais, que poderiam substituir a laqueadura de forma menos radical. Um deles é o DIU de cobre, que não tem nada de hormônio — diz a médica.

Pensando na falta de informações sobre o assunto e nas variáveis que devem ser levadas em conta na tomada de decisão, CELINA reuniu em oito pontos tudo o que você precisa saber antes de fazer uma laqueadura:

1. Podem fazer a cirurgia de laqueadura mulheres com capacidade civil plena e maiores de vinte e cinco anos de idade ou, pelo menos, com dois filhos vivos.

2. É estipulado um prazo mínimo de 60 dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico. Nesse período, a pessoa interessada deve ter acesso a aconselhamento por equipe multidisciplinar, visando desencorajar a esterilização precoce.

3. A laqueadura também é permitida em caso de risco à vida ou à saúde da mulher ou do feto. É necessário o testemunho por meio de relatório escrito e assinado por dois médicos.

4. Segundo o Ministério da Saúde, a cirurgia é ofertada gratuitamente em qualquer unidade do Sistema Único de Saúde (SUS) que ofereça serviço de ginecologia, obstetrícia e/ou maternidade.

5. Segundo a lei, a “esterilização depende do consentimento expresso de ambos os cônjuges”, o que faz necessário um documento assinado pelo parceiro(a) comprovando que concorda com a laqueadura.

6. A cirurgia de laqueadura é considerada definitiva por causa da grande dificuldade de reversão

7. A melhor forma de tentar reverter a laqueadura é através do método de fertilização in vitro. Porém, esse é um serviço extremamente caro no Brasil e as chances de sucesso são baixas.

8. A laqueadura não é um procedimento contraceptivo 100% eficaz, assim como nenhum outro é.

 

 

Fonte: O Globo