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RJ1 mostrou nesta quarta (3) as histórias de Mariluce e Camila que buscam levar informação sobre a doença.

O quadro ‘Quarentena do RJ’, do RJ1, mostrou nesta quarta-feira (3) as mulheres do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, que lutam contra a violência e a falta de condições para melhorar a qualidade de vida da comunidade.

E, nesse momento, elas têm mais um adversário nessa luta: a pandemia de coronavírus

As líderes comunitárias procuram ajudar e levar informações para que os moradores possam se prevenir contra o vírus.

Mariluce Mariá, idealizadora do projeto FavelaArt, conta que a avó foi a primeira moradora do alto do morro. Camila Santos é coordenadora do Mulheres em Ação e faz parte do Gabinete de Crise do Alemão.

Elas contam que quase 7 anos após a ocupação, os desafios continuam. E elas trabalham para mudar a história da favela.

Há três anos, Mariluce levava crianças para o primeiro passeio delas fora da comunidade. Um passeio que unia favela e arte.

O FavelaArt, atualmente, ajuda três mil famílias do Alemão. Já distribuiu quase seis mil cestas básicas e 39 nebulizadores.

“Acho que boa parte dos moradores está mais consciente dos seus direitos. Não vejo um grande avanço com relação à violência, que é uma das coisas que muitas pessoas, toda vez que vão falar do Complexo do Alemão, querem saber.”A intenção é usar a educação contra a violência. Agora, além a violência, o desafio é outro.

“Meu propósito principal com as crianças é não deixar elas perderem a esperança, que através da educação elas podem encontrar caminhos e oportunidades que antes eu não pude ver e outras pessoas da minha geração não puderam ver, e nem sabiam que existiam”, disse.

Para Mariluce, agora o desafio é outro. Segundo ela, além da violência, que motivou inclusive a criação do Gabinete de Crise, a questão da pandemia levantou a discussão sobre o acesso à informação.

O Gabinete de Crise do Alemão é formado pelos projetos:

  • Coletivo Papo Reto
  • Voz das Comunidades
  • Mulheres em Ação

Camila explicou que o Gabinete de Crise foi criado para repensar, criar e agir com medidas adaptáveis de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com ela, era preciso adaptar as medidas à realidade da favela.

“Eu não podia chegar dentro de uma casa e falar ‘lava a mão com água e sabão’ se aquela pessoa não tem água, se aquela pessoa não tem acesso ao sabão”, contou Camila.

Ela lembra que na comunidade existem pessoas que não têm TV e nem acesso à internet. E que foi preciso achar um meio de levar informação a essas pessoas.

“Então, a gente levou cartazes, faixas, carro de som. Tudo, num primeiro momento, para garantir o acesso à informação. Mas atrelado à isso, de uma forma cruel, a gente precisava dar acesso à assistência com relação à alimentação. Então, através das redes sociais, a gente recebe as doações, a gente tem um grupo aí hoje de mais de 30 voluntários” disse.

Não é uma tarefa fácil. Estima-se que o Complexo do Alemão tenha 50 mil casas, com cerca de 180 mil pessoas. Mariluce sobe e desce o local cadastrando pessoas de grupos de risco, buscando doações.

A moradora Edilaine Fonseca Medeiros diz que tem menos de 20 metros quadrados para morar. Ela, a mãe, três irmãos, o marido e dois filhos.

“Eu só fico dentro de casa. E pensar que está vindo até outro bebezinho. Estou grávida. No total são sete pessoas. Aí, dorme duas crianças aqui e três aqui com a minha mãe. Minha mãe está aqui por enquanto, porque ela está doente. Minha mãe teve tuberculose”, contou Edilaine.

Mariluce observa que na casa não há quarentena, mas sim um aprisionamento social. E diz que é difícil lidar com a pandemia num lugar onde vive alguém que teve tuberculose e não poderia ter contato com outras pessoas.

A menina Letícia, que há três anos, brincava no parquinho e que dizia que não sabia o que significava paz na favela, dez anos depois diz que praticamente nada mudou de lá para cá.

“Praticamente nada. As operações continuam do mesmo jeito, tiroteio não parou, não diminuiu. Ainda existe racismo, existe muita coisa que existia naquele tempo. Só que piorou, não melhorou. Piorou”, disse a jovem.

E piorou inclusive com a pandemia.

“Antes não tinha Covid-19 e agora tem. E com isso a gente não pode estudar, não pode ir para o curso, a vida toda está parada e a gente tem que ficar dentro de casa”, disse Letícia, com considera Camila como sua heroína.

Mariluce diz que agora tem de conviver com um inimigo diferente, que não faz barulho: o coronavírus. E junto com Camila, as duas guerreiras lutam por uma comunidade melhor.

“A maior parte das casas no Alemão são chefiadas mulheres. Então, no momento que essas mulheres entendem que elas querendo elas podem fazer, elas só precisam descobrir o caminho”, disse Camila.