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Adèle Haenel é uma das atrizes mais em voga na França, vencedora de dois César, o Oscar do cinema francês. Depois de anos de silêncio, ela acusou o diretor Christophe Ruggia de assédio sexual e provocou uma onda de choque que relança, dois anos depois, o movimento #MeToo no país. Sua decisão de não entrar na Justiça contra o cineasta provoca polêmica. A Promotoria de Paris abriu uma investigação nesta quarta-feira (6).

A atriz, de 30 anos, que começa a fazer sucesso internacional com o filme “Retrato de uma jovem em chamas”, de Céline Sciamma, em competição no último Festival de Cannes, revelou nessa segunda-feira (4) que Ruggia a assediou quando ela era adolescente.

Adèle Haenel fez a declaração ao site de notícias Mediapart, que publicou uma vasta investigação sobre o caso, com vários depoimentos confirmando a acusação da atriz. Ela estreou no cinema quando era adolescente. Em seu primeiro filme “Les diables”, dirigido por Ruggia, interpretava uma órfã autista, em fuga.

A atriz afirmou que o cineasta exerceu um “controle” sobre ela durante a filmagem. Se disse vítima de um “assédio sexual permanente”, “toques” repetidos e “beijos forçados no pescoço” que ocorreram na casa do diretor e em vários festivais de cinema quando ela tinha entre 12 e 15 anos.

Cineasta nega

Ruggia, de 54 anos, voltou a refutar as acusações nesta quarta-feira (6), mas admitiu ter “cometido o erro de brincar de ser um pigmaleão com os mal-entendidos e os obstáculos que esta postura suscita”. “Não percebi que minha adulação (…) podia ser, devido a sua juventude, penosa em alguns momentos”, disse. O diretor pediu ainda “perdão”.

Logo depois que a denúncia foi revelada, e sem que a Justiça fosse acionada, o cineasta foi expulso da Sociedade de Diretores de Filmes da França. A associação profissional, que tem 300 membros, ofereceu seu “apoio total” a Haenel. Atrizes famosas, como a vencedora do Oscar Marion Cotillard, também a apoiaram.

Consequências

Apesar de, na esteira do #Metoo, que na França ganhou sua versão #Balancetonporc (dedure seu porco), outras atrizes francesas terem acusado anteriormente um diretor ou produtor de assédio sexual, essa é a primeira vez que se trata de uma celebridade.

“Estamos diante de um momento de mudança. É a primeira vez na França que uma atriz conhecida internacionalmente, que trabalha muito e está muito cotada, fala sobre este assunto”, afirma a jornalista Véronique Le Bris, fundadora do site cine-woman.fr, para quem as acusações de Haenel terão “obrigatoriamente consequências”.

Para a professora universitária Iris Brey, especialista na representação do gênero no cinema, “até agora, na França, não houve o desejo de manter estas discussões pós #MeToo”.

Haenel explicou em um live no site Mediapart que decidiu revelar o caso agora, mais de 15 anos depois, porque o “mundo mudou”. “Devo o fato de poder falar agora a todas aquelas que falaram no âmbito do #MeToo“, disse.

“Os monstros não existem”

“Para mim, é uma responsabilidade, porque posso me permitir, porque trabalho o suficiente”, desabafou a atriz. “Os monstros não existem. É nossa sociedade, nós, nossos amigos, nossos pais. É nisto que devemos prestar atenção”, advertiu.

Haenel decidiu não denunciar Ruggia à Justiça, lamentando que haja “tão poucas” condenações nesse tipo de casos. Ela estimou ainda que há uma “violência sistêmica contra as mulheres no âmbito judicial”, levando a ministra da Justiça francesa a reagir. Nicole Belloubet aconselhou a atriz a dar queixa. “Acredito, ao contrário do que ela disse, que a Justiça pode se encarregar desse tipo de situação”, garantiu a ministra.

entanto, a Promotoria de Paris anunciou ter aberto uma investigação preliminar por “agressões sexuais” contra uma menor por parte de uma “pessoa com autoridade”, assim como por “assédio sexual”.

Reações nas redes sociais

O testemunho de Haenel gerou uma avalanche de reações nas redes sociais. “Adèle, sua coragem é um presente de uma generosidade sem igual”, escreveu Cotillard. “Você rompeu um silêncio tão pesado…”, acrescentou.

“Uma grande admiração por Adèle Haenel, que fala por todas aquelas que estão na sombra”, disse no Instagram a atriz Julie Gayet, companheira do ex-presidente François Hollande.

Ruggia afirmou que sua “exclusão social está em andamento”, lamentando que hoje em dia se acuse à margem da Justiça, “no pelourinho midiático”.

Unifrance, organismo encarregado da promoção do cinema francês no exterior, também ofereceu seu apoio, “condenando sem reservas qualquer ato violento, ou comportamento inapropriado”. O órgão anunciou a elaboração, em breve, de um código de conduta dirigido aos profissionais que participam de seus eventos.

(Com informações da AFP)

 

Fonte: RFI