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Uma polêmica explodiu na internet: a gamer Gabi Cattuzzo perdeu seu patrocínio da empresa Razer por conta de comentários que ela fez em suas redes sociais. Com isso, deu-se início a um grande debate sobre mulheres jogadoras e como elas são tratadas no meio.

Esta não é uma discussão nova, tendo sido popularizada em 2014, com o surgimento do Gamergate. Esse escândalo começou com uma acusação de traição e se tornou um diálogo sobre a corrupção e misoginia na indústria de jogos eletrônicos. Na época, jornalistas do meio publicaram artigos repudiando o cyberbullying e comportamentos sexistas por parte dos gamers. Eles ainda argumentavam que as acusações de corrupção serviam para acobertar o movimento misógino contra a desenvolvedora de jogos acusada de traição.

Mais recentemente, houve um aumento na produção de vídeos no YouTube que apontavam a misoginia exercida por gamers com o “desafio” de strip em jogos como Fortnite. No Brasil, uma tendência parecida era o Fifa Strip, com mais de 300 mil postagens na plataforma popularizada em 2017.

De acordo com a youtuber e gamer Jéssica, do canal Jessie Games, o mundo dos games é um meio machista. “A gente sabe quando é um xingamento pelo momento do jogo ou se estamos lidando com uma situação de misoginia ou assédio. É muito visível”, diz a youtuber.

A pesquisadora da área de desenvolvimento de jogos educacionais e ativista para a inclusão feminina Izadora Perkoski ainda lembra que, no início da indústria de games, a segmentação entre os gêneros não era uma questão. “A tradição [de jogos] como coisa de menino nasce em meados dos anos 1980, por uma questão de publicidade visando resolver a crise financeira”, explica. Atualmente, as repercussões desse rebranding ainda afetam as mulheres na indústria. “Algumas pesquisas estimam que a proporção de desenvolvedoras esteja entre 5% e 10%”, salienta Izadora. “Humilhação, perseguição, assédio sexual e objetificação feminina são algumas das atitudes bloqueando a participação feminina nesse universo”, conclui.

Para as jogadoras, os mesmos fatores bloqueiam sua participação em jogos on-line. Seguindo a polêmica criada da situação de Gabi Cattuzzo, mulheres e garotas gamers foram ao Twitter mostrar sua indignação com a hashtag #SouMulherSouGamer. A tag foi criada pelo Geek & Feminist, um portal de notícias sobre o mundo geek e feminismo. Uma das pessoas que mais impulsionou o movimento é a youtuber Míriam Castro, de 26 anos, do canal Mikannn.

Ela admitiu que sempre teve medo de jogar com voice chat (onde os jogadores do seu time conseguem se comunicar através de um microfone) por ouvir outras meninas relatando situações de assédio. “Isso me prejudicava na ranqueada, então decidi abrir mão”, explica Míriam. Nesta instância, ela lembra que um dos jogadores passou a partida perguntando se ela tinha pênis ou vagina. “É sim um ambiente hostil para mulheres”, escreveu.

Luis com S de Casa 👽@LJoga

😡mim xamo de licho 😡😡😡 so homi di familha 😡

😡😡 ai galera to sofrendo preconceito por ser homi aki😡😡

😎🤙hahaha ela perdeu o patrocinio dela kkkk,,kk,k,k agr jah posso veh os homi acediano e pra q defende a mina??kkk.k..k.k~ç.;k.k;.k.;😎🤙

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Após compartilhar suas próprias experiências, Míriam começou a receber depoimentos de suas seguidoras. Em um dos tuítes, uma de suas seguidoras afirma que um jogador hackeou sua conta, zerou seus personagens e gastou seu dinheiro com itens banais do jogo, além de deixar diversas mensagens a xingando. Por conta da situação, a moça deletou sua conta.

Outro depoimento veio de Carol Espilotro, designer digital. Em seus tuítes, ela conta que joga on-line desde os 12 anos e, ainda nesta idade, decidiu usar um nickname (apelido) masculino. “Aos 16 anos, início do LOL (League of Legends, da Blizzard), eu não conseguia jogar sem meus amigos e meu duo (parceiro) [por que] o medo era muito grande”, explica.

Depoimentos

Em entrevista ao Metrópoles, a programadora web Hanne Sebba, de 41 anos, afirma que joga desde os primórdios dos jogos em rede. No entanto, ela opta por utilizar apenas bate-papo escrito. “Quando entramos na era das mensagens de voz, eu já tinha perdido a paciência de jogar [em servidore abertos]”, relembra Hanne. “Machinho chato demais por bit quadrado”, ironiza. Ela conta também que começou a jogar usando nicks bem femininos.

“Daí vieram os chats privados, pediram telefone, fotos… isso quando não vinha uma foto das genitais, a famosa “dick pic”, não solicitada. Sempre apagava a conta e começava outra do zero, com outro nickname. Uma vez escolhi o apelido Ariel. Joguei em paz por dias até alguém duvidar que eu era mulher mesmo. Daí descobri a paz do anonimato”, relata Hanne.

Yuki Hirako, estudante de 20 anos, também prefere o chat escrito. Ela também revela ter passado diversas vezes por situações de assédio nos jogos, a afastando do cenário por vários momentos. “Em quase todo episódio de assédio que eu sofria, ficava extremamente abalada e me sentia um lixo”, rememora Yuki.

A opção de se tornar um personagem anônimo nos jogos online é bastante comum para jogadoras. “Enquanto anônimo [é] tranquilo [jogar]”, ressalta Hanne. A história muda quando seu gênero é revelado. “Como mulher… assédio e xingamentos certos. Se você comete erros, vêm as ofensas e zoação. Se você fica calada ou responde que só quer jogar, começa a perseguição. Isso cansa”, desabafa.

Não é segredo pra ninguém que há dias em que não estamos jogando muito bem, e a culpabilidade em cima de nós mulheres é sempre maior, como se fosse algum tipo de defeito ser uma jogadora. á tomei muito “rage” gratuito também só por ser mulher

YUKI HIRAKO

Hanne atribui ao “boom” do LOL o momento que ela perdeu a paciência por conta de todas as conversas em áudio. “Era molecada demais querendo por a banca pra cima de mim. Faz anos que não jogo em servidores abertos”, encerra.

Atualmente, ambas as mulheres ainda jogam games on-line. Enquanto Yuki prefere League of Legends e Counter Strike: Global Offensive, Hanne opta por utilizar redes privadas. “Com o tempo, você não precisa de muitos jogadores”, explica a jovem.

 

 

 

Fonte: Metrópoles