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Impossível não olhar para dentro dos gramados franceses. Se estamos em um momento em que os índices de feminicídio, de violência contra a mulher, de estupros permanecem altos; se quem ocupa a presidência do Brasil é um sujeito que afirmou ter sua única filha como resultado de uma fraquejada – “ah, mas foi brincadeira”; todos os dias, nós, mulheres, enfatizamos a importância de que “chistes” como esses, carregados de preconceitos históricos, sejam eliminados do repertório da sociedade –, que disse a uma deputada que não a estupraria porque ela não merecia, se o país tem agora uma ministra que declara que as mulheres devem ser princesas e vestir rosa… Se os quadros político e social atuais permanecem a enaltecer o machismo e os machistas, há um outro lado em que a força e a garra femininas chamam muita atenção: o lado de dentro do gramado, em que 24 seleções compostas por craques da bola estão dando um espetáculo de determinação,dribles e chutes a gol. São motivos suficientes para um “viva!” à Copa do Mundo feminina, a despeito do desrespeito a que tantas mulheres são submetidas diariamente em todo o mundo.

As lutas feministas recentes e permanentes abriram caminhos em várias áreas, brigaram, enfrentaram, questionaram. E as conquistas – parcas, mas relevantes – não param de chegar. Pela primeira vez uma Copa do Mundo de futebol feminino é transmitida pela emissora de televisão de maior audiência no País. Também é inédita a liberação de funcionários nos dias de jogos do Brasil por algumas empresas. Ou a criação de ações organizacionais para que os colaboradores assistam aos jogos da seleção em horário de expediente. Não me lembro de acompanhar tantas reportagens sobre as jogadoras brasileiras nos telejornais ou de ter ouvido e lido um conteúdo tão vasto a respeito. Uma grande empresa de materiais esportivos produziu um vídeo já assistido mais de um milhão e duzentas mil vezes, em que uma menina entra em campo após ser perguntada: “Está pronta?” E ela estava pronta. Deu o passe final para um golaço ao final da exibição.

É uma onda nova, que pode ser confirmada por quem acompanha o meio esportivo de perto. E as mulheres estão prontas. Para competir, treinar, torcer, fazer as coberturas jornalísticas, discutir sobre os melhores e piores lances, planejar e comandar transmissões. As mulheres sempre estão prontas. Marta, seis vezes a melhor do mundo. Cristiane, em sua sétima Copa.Formiga, aos 41. As estreantes Ludmila e Geyse. E toda uma seleção que tem muito a ensinar à equipe de Tite. Por falar em Tite, fica aqui a ressalva – por motivos que só a CBF é capaz de explicar, ou não – de que a seleção feminina tem um técnico e não uma técnica. Um senhor que, aliás, andou dando umas declarações consideradas machistas por mulheres e homens que acompanham o esporte no Brasil. Mas, diante de uma informação anticlímax para encerrar este artigo que joga no ataque, mando um lance usado nas narrações esportivas e que as mulheres levam para a vida: segue o jogo!

 

Fonte: Jornal Brasil