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Janela para muitas pessoas representaria um sonho, uma possibilidade ou até mesmo um espaço de liberdade. Mas, fatos recentes demonstram justamente o contrário. Homens continuam a acreditar que a vida de mulheres não tem nenhum valor. Há homens em nossa sociedade que arremessam pela janela mulheres como se fossem objetos descartáveis. Jogam pela janela seus sonhos fracassados de controle, domínio e poder. Estes homens não compreenderam que a mulher não é mais um objeto de posse. Na verdade, nunca foram. Mas acreditaram ao se casar ou manter um relacionamento, que este fato tornaria a mulher um objeto de sua decoração e de seu status social.
Nada justifica o arremesso de mulheres pelas janelas. Mas podemos compreender porque homens continuam matando mulheres. Compreender não significa aceitar. Mas sim, investigar, pesquisar e estudar formas de evitar e diminuir o feminicídio. Homens muito possessivos, com “ciúmes” travestidos de amor, são capazes de atos bárbaros. Já há uma forma de identificar comportamentos agressivos desde os primeiros sinais e logo no começo de uma relação. Quando homens desejam controlar horários, passeios, amizades já há um claro sinal que este “cuidado” na verdade é um controle. Mas como está no começo de um relacionamento, tudo é paixão. Como dizem no ditado popular, “paixão é pá e chão”. As pessoas ficam cegas, mudas e surdas. A dominação masculina vai num crescente de mistura de carinho, cuidados, mimos, presença quase 24 horas por dia, num sufocamento emocional quase que invisível. Este modelo de masculinidade começa a criar um hiato de antes e depois. Começa a alterar a rotina da vida de mulheres. Este modelo de masculinidade cobre todos os espaços emocionais da mulher. Aprisionando em uma gaiola sem paredes os sentimentos, tornando a mulher quase como refém de sua presença. O controle é o primeiro sinal da ameaça de uma violência velada. Se fecham as saídas e portas. Silenciosamente, as pessoas que fazem parte da vida do casal ou conhecem o casal, vão se afastando.
Porque essa masculinidade age desta forma? É necessário compreender, que nós homens fomos formados dentro de uma sociedade machista. Isto não explica, mas nos permite um grau de vigilância de nossas atitudes. Quero dizer, que cabe a nós examinarmos nossas atitudes e nossos pensamentos em uma relação afetiva com qualquer mulher. Porque homens perdem o controle e dizem “eu não me lembro do que fiz”? Porque queremos negar a possibilidade de liberdade da outra mulher. Porque essa liberdade nos afeta diretamente no reino que construímos para nós mesmos. É necessário sair deste castelo de dor. É necessário abrir espaços para nossos próprios sentimentos. Homens, em sua grande maioria, não falam de seus sentimentos. Preferem explodir em atos cruéis. A perversidade do patriarcado é construir as estruturas que justificam e legitimam a morte de mulheres. A crueldade da violência contra as mulheres é responsabilidades de homens. É necessário mais rigor na Lei, mas também uma janela para que homens possam ver um novo horizonte de equidade entre mulheres e homens.

SÉRGIO FLÁVIO BARBOSA
FILÓSOFO

 

A Copa do Mundo de Futebol e As Masculinidades

A cada 4 anos um evento atrai todos os holofotes para si. Capaz de gerar milhões em faturamento com propaganda e mídia, o futebol é um esporte altamente lucrativo. Além de todas essas possíveis análises, é necessário pensar como futebol produz, reproduz representações sociais heteronormativas, misóginas e homofóbicas.
O futebol moderno é uma fábrica de construção de papéis sociais de gênero. É o cenário perfeito onde as relações sociais de dominação se cristalizam. O futebol de verdade é masculino, o que vale pintar ruas, corpos, vestir a camisa amarela. O futebol feminino é de brincadeirinha, uma recreação, um espaço cedido mas com ressalvas para as mulheres. O futebol que mexe com as emoções, faz vibrar e aflorar o patriotismo é o futebol viril que reforça o poder e domínio do masculino.
Por que o futebol se tornou este ápice da representação masculina? As representações sobre as masculinidades são criadas dentro de uma sociedade e dentro de uma cultura. E como construção determinam os papeis de homens e mulheres na sociedade. Então, o esporte como fragmento desta cultura forma os indivíduos como sujeitos de gênero e é a partir do conceito de relações de gênero que nos permitimos pensar e agir nas formas das masculinidades baseadas na virilidade, no poder, controle. E desde o técnico da seleção brasileira até o gândula, é atravessada a figura que ser homem no Brasil é se aproximar deste modelo. O futebol define a existência de uma masculinidade porque “não se pode dizer que os corpos tenham uma existência significável anterior à marca do seu gênero” (BUTLER, 2003, p. 27). O conceito de “gênero funciona como um organizador social e da cultura (…) e, assim, engloba todos os processos pelos quais a cultura forma desde a infância valores que os homens deverão assumir.
Assim como no futebol o jogador é medido pela sua peformarce, na sociedade homens são medidos pela sua performace. Estão incluídas nesta performatividade a força, nunca desistir, alcançar a glória, intimidar, dominar. São atributos sociais cristalizados desde a educação em escolas que homens não podem demonstrar sentimentos de afeto, carinho ou cuidado. “Doar o sangue pela camisa”, significa muitas vezes abrir mão de valores, de morrer se preciso for, para ser considerado como herói. A perversidade do futebol torna meninos em homens agressivos, focados em uma vitória isolada, em um prêmio pela glória que o importante é ser o primeiro. As masculinidades que se baseiam nestes atributos exercem de fato o controle, estão no limite da prática da violência contra si e contra mulher. Quem sabe, um dia poderemos ter um outro modelo de futebol, dentro e fora dos campos e estádios de futebol.