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Um dos principais fatores que impedem a mulher em situação de violência domésticade denunciar o agressor é a vergonha: de ter se submetido às agressões, de não ter tido coragem ou condição de sair do relacionamento, de ser enxergada como vítima e, sobretudo, de ser julgada. Mas, e se o rosto da confidente for virtual? É aí que entra Glória, um robô de inteligência artificial pensada especificamente para estender a mão a mulheres que precisam de ajuda.
“Trabalho com empoderamento feminino desde 2014, mas me incomodava muito não conseguir ajudar mais. Até que, em uma viagem de trabalho à China, estava em um parque tecnológico e um robôzinho veio falar comigo. Tive um insight“, conta Cristina Castro-Lucas, embaixadora da Women’s Entrepreneurship Day Organization (Wedo) no Brasil e idealizadora de Glória. Com inteligência artificial, será possível não só falar com milhões ao mesmo tempo mas também levantar dados exatos e gerar mapas com mais informações sobre quem sofre violência.

É importante frisar que Glória não é um bot, com respostas prontas. Ela aprenderá com as experiências para um atendimento cada vez melhor. Até a imagem é pensada para que as mulheres consigam se enxergar um pouco no robô. Criada pelo artista Toninho Euzébio, o rosto de Glória mistura os traços de 10 mulheres que tiveram a capacidade de liderança reconhecida pela organização internacional.

As inspiradoras do avatar são a ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia, a diretora-executiva do Metrópoles, Lilian Tahan, a pedagoda Cosete Gebrim, a atriz Maria Paula Fidalgo, a recrutadora Sofia Esteves, a advogada Rosine Kadamani, a estilista Martha Medeiros, a médica e ativista Nadine Gasman, a advogada Andressa Del Debbio e a empreendedora Ana Fontes.

“A ideia é que Gloria seja uma pessoa de outro planeta com um DNA mutante que some cada grande mulher à sua própria persona. E essa é sua primeira grande qualidade, é uma somatória de todas nós, não tem juízo de valor, certo ou errado. Queremos que ela seja como um espelho”, explica Cristina.

“Começamos juntos a entender o rosto dela, como falaria, se teria sotaque de algum lugar, as cores que a representam. Ela é um algoritmo, o que significa que aprende sozinha de acordo com suas experiências”, explica Carla Damião, sócia e presidente da Ink Inspira, uma das responsáveis por tirar Glória do papel.

A ideia é que, a princípio, ela tenha perfis no Instagram e no Facebook, onde as mulheres possam entrar em contato por mensagem. No futuro, Glória estará presente em totens em shoppings e eventos e, quem sabe, um dia terá um corpo físico assim como o robôzinho chinês que inspirou o projeto.

Carla explica que é preciso começar devagar. Em um primeiro momento, Glória dará explicações jurídicas, indicará as delegacias mais próximas, ensinará os direitos da mulher e o que é possível fazer em caso de violência. Com o tempo, ela deve aprender, com a ajuda de psicólogos, a ser menos fria, buscará a empatia da interlocutora.

Glória também será capaz de detectar as palavras usadas e cruzar com informações da Delegacia da Mulher para entender o nível de violência que a vítima está sofrendo e pedirá um apelido no primeiro contato para continuar a conversa em outras oportunidades. “Teremos uma atuação também de coleta de dados para a melhoria das políticas públicas. Nem 10% das mulheres denunciam a violência doméstica. Podemos mostrar ao governo onde elas estão, a idade, o perfil”, conta Carla.

Investimento
Mas, para sair do papel, Glória precisa de um investimento de pelo menos R$ 1,5 milhão no primeiro ano. Com o dinheiro, poderá estar on-line em seis meses. Na próxima terça-feira (23/04/2019), o projeto será oficialmente lançado na Câmara dos Deputados pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher. O objetivo é pedir verba e aumentar a visibilidade da ideia. O projeto de Glória também está concorrendo a um prêmio na ONU e aguarda resposta.

Neste 2019, o Metrópoles inicia um projeto editorial para dar visibilidade às tragédias provocadas pela violência de gênero. As histórias de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal serão contadas em perfis escritos por profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas), com o propósito de aproximar as pessoas da trajetória de vida dessas mulheres.

O Elas por Elas propõe manter em pauta, durante todo o ano, o tema da violência contra a mulher para alertar a população e as autoridades sobre as graves consequências da cultura do machismo que persiste no país. Desde 1° de janeiro, um contador está em destaque na capa do portal para monitorar e ressaltar os casos de Maria da Penha registrados no DF. Mas nossa maior energia será despendida para humanizar as estatísticas frias, que dão uma dimensão da gravidade do problema, porém não alcançam o poder da empatia, o único capaz de interromper a indiferença diante dos pedidos de socorro de tantas brasileiras.

FONTE: METROPOLES