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Duas jovens estudantes, ambas de 18 anos, disseram ter sido vítimas de assédio sexual durante uma viagem em um ônibus da Viação Santa Brígida, na região da Lapa, zona oeste de São Paulo. O episódio, ocorrido no dia 14 de outubro, por volta das 12h, foi rápido, mas deixou marcas. “É uma coisa a ser superada”, disse uma delas — as adolescentes preferiram não se identificar por medo de retaliação e terão nomes fictícios na reportagem.

Estudante de enfermagem, Ana contou que sentada na parte traseira do ônibus biarticulado que fazia a linha 129 F – Conexão Petrônio Portel / Metrô Barra Funda quando notou a entrada notou a entrada — pela porta traseira — de um homem albino, com cabelos e barbas ruivas, aparentando ter entre 25 e 30 anos.

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A jovem, que retornava do trabalho como recepcionista em um laboratório, estranhou o fato de o homem ter optado por sentar-se ao lado dela, mas havendo muitos lugares no coletivo. De acordo com universitária, assim que o suspeito se acomodou, passou a fazer movimentos como se estivesse se masturbando.

“Percebi pelo movimento que ele colocou a mão dentro da calça e começou a fazer [se masturbar]. Achei que ele ia descer, mas não desceu. Eu estava em estado de choque, gelada. Pedi licença, saí e fui para o lado de uma mulher. Estava tremendo e com falta de ar”, relembrou Ana.

No entanto, a garota disse que a ação foi bastante rápida e logo o suspeito passou a incomodar uma amiga dela, foi agressivo e causou ainda mais medo nas passageiras. Em seguida, três ou quatro pontos adiante, o homem desceu do ônibus.

“Não tinha visto que ela estava no ônibus. Disse [por gestos] para ela sair. Ela pediu licença, mas ele não quis deixá-la passar. Ela tentou sair com tudo, esbarrou a perna [em uma peça do ônibus, se machucou. Ele levantou muito bruto, ficou muito nervoso. Abriram para ele descer perto do Poupatempo da Lapa. Ele ficou no ponto”, disse a jovem.

Já Paula, aluna do curso de moda de uma faculdade também na zona oeste paulista, confirmou a versão da amiga e afirmou que tentou chamar a atenção de outros passageiros, do cobrador e do motorista para o que estava ocorrendo, mas não foi atendida.

“Achei muito estranho, porque nem o cobrador nem o motorista viram nada, Também reparei uma movimentação estranha de um moço, aparentemente ele estava vendo o que o cara estava fazendo e resolveu sair de perto pra não sobrar pra ele. Tentei sair do banco, pedi licença alto até que alguém me olhasse.”

Segundo as jovens, apenas uma mulher com um bebê no colo se levantou para ajudá-las a afastar o suspeito de abuso, atitude que o teria intimidado. “Não vi ninguém se mexer para fazer nada. O cobrador ficou parado, o motorista ficou parado. Os homens que estavam no ônibus não fizeram nada. Tinha cerca de 15 pessoas na parte de trás do ônibus”, frisou Ana.

Traumas

Após retornarem para casa bastante assustadas, ambos relataram o fato para familiares. Elas pretendiam registrar um boletim de ocorrência em uma delegacia, mas desistiram por medo de uma possível retaliação por parte do suspeito. “Faço o mesmo trajeto todos os dias para voltar da faculdade. Então me sinto bem insegura”, alegou Paula.

“Queria ir no posto policial da Barra Funda para avisá-los. Nunca tinha acontecido nada do tipo. A gente pensa que nunca vai acontecer. É uma coisa a ser superada. Se vê-lo de novo, tentarei tirar uma foto dele ou filmá-lo. Quando cheguei em casa. pensei no que teria acontecido se não tivesse saído de lá. Me deu uma crise de choro. Me tremo inteira”, complementou Ana.

Outro lado

A SPTrans — empresa que administra o transporte público por ônibus da capital paulista — afirmou, por meio de nota, que repudia qualquer tipo de abuso no transporte público e realiza campanhas preventivas sobre esse tema em materiais afixados nos ônibus, terminais e publicados em seus perfis nas redes sociais.

De acordo com as orientações de procedimento da SPTrans, os operadores devem parar o ônibus e aguardar a chegada da polícia ou conduzir até a delegacia mais próxima em caso de assédio sexual no interior dos veículos, onde a vítima poderá registrar o boletim de ocorrência e receber amparo das autoridades policiais. Por isso, é importante que motorista e cobrador sejam comunicados imediatamente para que possam tomar as providências cabíveis.

No caso citado pela reportagem, a empresa responsável pela linha será notificada a reorientar seus funcionários a seguirem os preceitos dos treinamentos obrigatórios no que diz respeito a casos de assédio nos coletivos.

Para abolir esta prática criminosa no transporte coletivo, a SPTrans aderiu à campanha “Juntos podemos parar o abuso sexual nos transportes”, que conta com a cooperação de instituições públicas e privadas para combater a violência sexual nos transportes e estimular a denúncia para que os agressores sejam punidos.

Além disso, a SPTrans aborda o assunto abuso sexual no Programa Viagem Segura que desde 2017 já treinou 131 mil motoristas, cobradores e fiscais com temas como a direção defensiva, prevenção de acidentes e atendimento aos passageiros.

Santa Brígida

Diante dos relatos de assédio e da possibilidade de o suspeito ter sido visto em outras oportunidades na região, a empresa Santa Brígida afirmou à reportagem do R7 que o cobrador citado pelas vítimas foi identificado, mas disse que não se lembrava do episódio.

A empresa ressaltou também que os funcionários estão sempre atentos às orientações da SP Trans em relação ao tema, como parar o veículo e acionar uma autoridade policial diante de qualquer suspeita de abusos sexuais nos coletivos.

A Viação Santa Brígida lamentou o ocorrido  e informou que estará à disposição das autoridades competentes para contribuir nas investigações.