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Como participar

Ajudar os meninos a encontrarem o seu papel nesse mundo de garotas cada vez mais empoderadas é mais uma tarefa dos pais de hoje. Ativista pelos direitos da mulher e mãe da Laura, de 16 anos, da Isabel, de 13, e do André, de 11, a jornalista Mariana Kotscho, que é apresentadora do Momento Papo de Mãe, na TV Cultura, e do Capital Mulher, na rádio Capital, conta aqui como faz isso na sua casa já que as filhas mais velhas também são feministas:

 

André tem os mesmo direitos e deveres das meninas? Como você lida com questões, por exemplo, como a segurança?

Sim, André tem mesmos direitos e deveres das meninas e ainda aprende a respeitar as mulheres. Acaba sendo educado não só pela mãe, mas também pelas irmãs mais velhas para ser um homem feminista. Já sabe que não pode fazer certas piadas e sempre tomei cuidado para não dizer coisas para ele como “parece coisa de menina” ou “menino não chora”. Como ele é o caçula, ainda não tem os mesmos direitos da irmã mais velha. Decido pela idade e não pelo gênero. A mesma preocupação que tenho com as meninas, tenho com ele. Aliás, quando ele era pequeno e entrava sozinho no banheiro masculino eu ficava bem preocupava. Sempre dizia: não aceite ajuda de ninguém. Converso com meus filhos sobre tudo.

 

E como é a conversa sobre machismo e feminismo na sua casa?

Conversamos muito, principalmente por causa de um trabalho voluntário que faço com vítimas de violência doméstica. Meus filhos sempre me acompanham em tudo e sou uma mãe super ativista nas questões do feminismo. Então os levo a eventos, palestras, faço assistir e ouvir meus programas. Dia 8 de março fui com as meninas em uma manifestação feminista na Avenida Paulista (em São Paulo), André não quis ir e eu respeitei. Elas também só participam quando querem. André já faz comentários que me deixam cheia de orgulho quando comenta algo como “mamãe, aquele homem disse tal coisa, ele é machista”, ele já percebe. Pontuo bastante para também ninguém extrapolar. Um dia, a Laura não conseguia abrir uma garrafa de água e o André se ofereceu para ajudar. Ela logo disse: “não preciso, seu machista.” Daí eu tive que explicar para ela que naquele caso ele estava apenas sendo educado…

 

Em tempos de meninas super empoderadas, é também papel dos pais e mães de meninos ajudá-los a encontrar o espaço deles. De que forma você auxilia André?

Costumo ter momentos só nossos, procuro valorizar aquilo que ele gosta. Explico que não é para ter uma competição entre homens e mulheres, que o importante é ter uma igualdade. Os homens também ganham com isso. Passam a ter o direito de expressar mais seus sentimentos e suas vontades. Dos três, ele é o que mais gosta de manter tudo arrumado e organizado e o que mais gosta de cozinhar. Adora futebol e videogames e já brincou muito de boneca com as irmãs quando era pequeno. São características dele, do André, e não de homem ou mulher, de menino ou menina. Ele vai ter seu espaço como ser humano, com suas qualidades e defeitos. Ele está aprendendo que o lugar do homem é ao lado da mulher. E não acima nem abaixo dela.

 

Se na primeira infância a gente não faz distinção entre brinquedo, cores, roupas de menino e de menina, ao chegar na pré-adolescência, eles buscam as próprias referências. Você percebeu essas mudanças nos seus filhos?

Olha, confesso que André fica um pouco bravo ao ver suas fotos de bebê com boias das Super Poderosas que herdou das irmãs ou dormindo com um cobertor rosa que também era delas. Diz que se alguém encontrar essa foto vai “zoar da cara dele”. Mas na minha casa qualquer um pode usar rosa ou azul. Na pré-adolescência, sem dúvida, eles são cheios de opinião e argumentam bastante para se impor. E nós, mães ou pais, também aprendemos com os filhos. Eu já não decido a roupa deles, mas eles gostam de pedir minha opinião.

 

E, por falar em pré-adolescência, o que acha mais desafiados e o que é mais bacana dessa fase?

Desafiador hoje em dia é, sem dúvida, competir com o celular dos filhos. É uma guerra. A gente dá o celular e depois não consegue tirar, e me preocupa a dependência e o tempo gasto com o aparelho. O mais curioso é que o celular está sempre na mão, mas quando a mãe manda mensagem ninguém responde! Acho que é uma fase de muito diálogo e descobertas: para as mães e para os filhos e, às vezes, a gente precisa de ajuda até para facilitar o diálogo. Antes eu tinha medo de como seria a pré-adolescência e a adolescência dos meus filhos, mas estou adorando esta fase. Não é nenhum bicho de sete cabeças. Claro que tem dias mais tensos, cada filho tem uma necessidade diferente, mas é um desafio gratificante. Repito que o segredo é o diálogo. Os filhos estão crescendo e a gente começa a perceber quem eles estão se tornando, quem são, que opiniões têm, o que pensam.  Que venham os próximos anos. O mais importante é que meus filhos saibam que sempre poderão contar comigo.

 

Fonte: Oglobo